Descoberta da nova espécie de preguiça!

Como você deve lembrar, a nossa presidente Flávia Miranda, junto a outros 5 pesquisadores, publicaram um artigo descrevendo uma nova espécie de bicho-preguiça!

 

O gênero Bradypus antes era representado por quatro espécies, sendo uma delas ameaçada de extinção e restrita a região de Mata Atlântica do Brasil: a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus). 

 

Com o estudo realizado por eles, foi visto que, na verdade, essa não é apenas uma espécie, mas sim, duas! A já conhecida B. torquatus, chamada agora de preguiça-de-coleira do nordeste, por ocorrer nos estados da Bahia e Sergipe; e a recém descoberta preguiça-de-coleira do sudeste (Bradypus crinitus), que ocorre nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

 

Se ficou curioso, continue com a gente até o final, pois no blog de hoje te contamos um pouco mais sobre essa descoberta! 

A Nova Espécie

A preguiça-de-coleira pertence à família Bradypodidae, que é composta pelas preguiças de 3 dedos. Essa preguiça é do gênero Bradypus, endêmica da Mata Atlântica (para conhecer mais sobre a espécie, acesse aqui).

 

Acreditava-se que este gênero era composto por uma única espécie, a Bradypus torquatus, que foi descrita em 1811… 

 

Em 1850, John Edward Gray descreveu a espécie Bradypus crinitus, uma segunda espécie de preguiça-de-coleira. Porém, devido suas similaridades, ambas foram consideradas da mesma espécie, endêmicas da Mata Atlântica, com distribuição desde Sergipe até o Rio de Janeiro. E assim essa classificação se manteve… até que recentemente esses dados mudaram! 

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Preguiça-de-coleira / Foto: Instituto Tamanduá.

Com estes estudos recentes, foi possível concluir que Gray estava correto, pois, sim, existem duas espécies de preguiça-de-coleira: a preguiça-de-coleira do nordeste (Bradypus torquatus), que ocorre nos estados brasileiros da Bahia e Sergipe; e a preguiça-de-coleira do sudeste (Bradypus crinitus), que ocorre nos estados do Rio de Janeiro e no Espírito Santo. 

 

Estas, se divergiram no início do Plioceno (período Terciário da Era Cenozóica), há cerca de 5 milhões de anos, devido às barreiras geográficas. Há uma forte hipótese que diz que estas barreiras foram os rios Doce e Mucuri.

Distribuição das 2 espécies de preguiça-de-coleira (Nordeste e Sudeste) / Foto: Instituto Tamanduá.

A descoberta teve grande visibilidade e ganhou 3 matérias em importantes sites de notícias, como no G1, no Conexão Planeta e no OEco. Demais, não é?!

Como a espécie foi descoberta?

Para que essa descoberta acontecesse, os pesquisadores investigaram as variações genéticas e morfológicas do gênero Bradypus.

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Preguiça-de-coleira (Bradypus spp.) / Foto: Adriano Gambarini.

No estudo genético, analisaram as sequências de nucleotídeos que compõem o DNA e que carregam informações sobre o gene e sua origem. Realizaram uma análise da árvore filogenética da espécie, para descobrir quem eram seus ancestrais e a estimativa dos tempos de divergência, ou seja, para entender quanto tempo levou para que essas espécies se dividissem ao longo de sua evolução.

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Coleta sanguínea para análises moleculares / Foto: Adriano Gambarini.

Já no estudo morfológico, utilizaram cerca de 55 espécimes do gênero Bradypus que estavam depositados em diferentes coleções taxonômicas do Brasil, do Museu de História Natural de Londres e também do Museu de História Natural em Leiden, na Holanda. 

 

Esta foi a maior quantidade de amostras já utilizadas em pesquisas de subgênero, e a coleção destes espécimes compreendem grande parte de sua distribuição. As amostras continham pele, crânio, mandíbula, úmero e escápulas dos animais. 

 

Além disso, determinaram a idade dos espécimes, separando-os por faixa etária, como juvenis, subadultos e adultos, devido análises de como as articulações do crânio se fechavam, por observações das placas de crescimento dos ossos e pela formação dos ossos das escápulas (osso ligado a clavícula que permite a ligação entre os ossos do tronco). 

 

Junto a isso, foram avaliadas as diferenças na estrutura dos crânios para observar a padronização da morfologia dos dois grupos.

Diferenças entre os crânios de B. crinitus e B. torquatus / Foto: Instituto Tamanduá.

Diferenças de tamanho foram estudadas, coletando informações sobre o peso e o tamanho dos indivíduos vivos em campo, totalizando 60 observações sobre o peso e 57 sobre o comprimento de cada animal.

 

A pelagem também foi levada em consideração nessa pesquisa, onde foram examinadas 18 peles de amostras de museus e 14 amostras de indivíduos vivos, avaliando o padrão de cores de cada espécie.

 

E claro, por fim, as distribuições geográficas de cada população, que foram avaliadas através de coordenadas geográficas de GPS (sistema de posicionamento global) usadas em campo, dos espécimes dos museus que apresentavam rótulos e até mesmo de artigos publicados.

 

Após a realização de todas as avaliações, foram comprovadas as diferenças no DNA e nas estruturas ósseas das espécies.

 

A partir disso, temos oficialmente, a divisão da preguiça de coleira do nordeste (Bradypus torquatus) e da preguiça de coleira do sudeste (Bradypus crinitus). 

Foto: Instituto Tamanduá e Suelen Sanches.

Qual o impacto da descoberta para as preguiças-de-coleira?

As preguiças-de-coleira são atualmente classificadas como Vulneráveis ​​pela Lista Vermelha da IUCN e na Lista Vermelha de espécies ameaçadas do Rio de Janeiro. Com isso, a nova espécie já surge como Criticamente Ameaçada.

 

Elas ocorrem somente nessas regiões e ambas as espécies correm o risco de desaparecer devido à perda de habitat e com áreas muito fragmentadas de florestas. E a divisão as tornam ainda mais vulneráveis. 

 

A nova descrição é importantíssima, e a partir de agora novos estudos terão início a fim de reavaliar o estado de conservação das preguiças, para desenvolver novas estratégias de conservação e redefinir a necessidade de cada uma. 

 

Mas, já adiantamos que a Paloma Marques, pesquisadora do Instituto Tamanduá, junto a outros pesquisadores, publicou um estudo sobre os impactos que as duas espécies têm sofrido com a devastação da Mata Atlântica, já que dependem 100% das florestas como habitat. 

 

Essa constatação ressalta a urgência de medidas de restauração do bioma para diminuir os efeitos das mudanças climáticas. 

 

Além disso, as preguiças-de-coleira do sudeste (Bradypus crinitus) podem perder mais de 7.000 km² de áreas adequadas, sendo extremamente necessário a recuperação de seus habitats florestais, para garantir o mínimo de área adequada para a sobrevivência da espécie. 


Entre os anos de 2019 e 2020, as áreas desmatadas de Mata Atlântica do Espírito Santo aumentaram em 400%, o que torna ainda mais preocupante o estado de conservação da B. crinitus.

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Desmatamento no Espírito Santo só aumenta / Foto: G1.

Se nada for feito, as chances da espécie desaparecer é grande, tornando-a ainda mais ameaçada.  

 

Por outro lado, as preguiças-de-coleira do nordeste (Bradypus torquatus) habitam áreas que são consideradas mais adequadas para sua sobrevivência. 

 

Devido a isso, é possível compreender os riscos que as espécies têm sofrido e a importância de sua reclassificação.

 

A frase “Conhecer para preservar” nunca fez tanto sentido, não é mesmo?!



Texto por: Giovanna Leite Batistão

Revisado por: Juliana Cuoco Badari

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