Conheça o Projeto Órfãos do Fogo

Foto: Karina Abreu

O fogo é uma das forças mais destrutivas da natureza. Quando fora de controle, deixa um rastro de destruição e cinzas por onde passa, afetando toda a biodiversidade local. Seus impactos são sentidos a longo prazo, e os animais que não morrem queimados enfrentam diversos desafios para sobreviverem.

 

 

Mas o que fazer com os animais debilitados e órfãos? O Projeto Órfãos do Fogo surgiu com o objetivo de cuidar, reabilitar e devolver para a natureza filhotes órfãos de tamanduá-bandeira, vítimas dos incêndios no Pantanal Sul.

 

 

Neste texto, explicaremos mais a fundo sobre esse trabalho e qual a sua importância na conservação dessa espécie-chave para os biomas brasileiros. Continue acompanhando e entenda melhor o nosso Projeto!

Foto: Karina Abreu

Tudo começou com os grandes incêndios no Pantanal

Foto: Gustavo Figueirôa

Embora os incêndios sejam naturais na região, os últimos anos foram marcados por incêndios de proporções catastróficas no Pantanal, como nunca antes visto. Só em 2020, ano que o bioma registrou a pior onda de incêndios florestais da história, o fogo consumiu mais de 26% da planície, equivalente a uma área de 3,9 milhões de hectares.

 

Milhões de animais morreram, inclusive muitos tamanduás-bandeira, espécie ameaçada de extinção. Os tamanduás são lentos e passam o dia quietos em sua toca, com isso, possuem menores chances de fugir a tempo.

 

Quando fogem, desorientados, podem ir para as rodovias e serem atropelados, ou ir para zonas urbanas, onde podem sofrer com violência, ataques de cães e também, pegar doenças de animais domésticos.

Foto: SESC Pantanal

Felizmente, alguns destes animais conseguem ser resgatados ainda com vida e levados ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) de Campo Grande. Só em 2020, foram 52 tamanduás-bandeira entre adultos e órfãos que chegaram ao CRAS. 

 

 

Bom, e aí começa a história do Instituto Tamanduá com essas vítimas do fogo. Em meio aos incêndios devastadores, a nossa equipe fez uma expedição no bioma com o objetivo de coletar material biológico dos tamanduás-bandeira (e tatus) afetados. Afinal, em meio à ameaça de uma extinção local de suas populações, ter material biológico viável delas é fundamental.

 

 

Assim, coletamos material dos animais atropelados em rodovias, dos que estavam em tratamento em hospitais veterinários de campanha e também, dos que haviam chegado ao CRAS. E foi nele que tudo mudou. 

 

 

Havia muitos órfãos por lá, precisando de um longo tempo de manejo e reabilitação e de uma adequada soltura. Então, a nossa equipe realizou estudos genéticos desses animais e analisou as origens de cada um, em busca de um local onde eles poderiam ser soltos. Percebemos, que a genética deles é compatível com a dos tamanduás-bandeira que vivem na região da Pousada Aguapé, onde temos parceria e estudamos esses animais de vida livre há mais de 10 anos.

 

 

Com o local de soltura desses órfãos definido, e com parceria firmada com o CRAS, o Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (IMASUL), a Pousada Aguapé e os nossos financiadores, demos início ao Projeto Órfãos.

 

 

Ressaltamos o “início”, pois, infelizmente o cenário futuro não é animador: a planície pantaneira passa por um período longo de redução hídrica, e a quantidade de chuva tem sido cada vez menor do que a esperada, agravando a seca e, consequentemente, os incêndios. Com isso, novos órfãos são entregues anualmente ao CRAS de Campo Grande para reabilitação. Todos, contemplados pelo nosso Projeto!

Um bom projeto requer um bom planejamento!

Para um projeto como este ter chances de ser bem sucedido, é preciso muito planejamento prévio, para tentarmos prever todos os desafios que poderão ser enfrentados. Antes de receber os órfãos, já planejamos toda a sua reabilitação e até mesmo a sua soltura.

 

 

1 – Estudos genéticos: em primeiro lugar, é feita a análise genética dos órfãos a serem soltos. Com isso, buscamos soltar em um local onde a genética da população de vida livre seja compatível com a dos órfãos.

 

 

2 – Área de soltura: definimos a Pousada Aguapé e seu entorno, no Pantanal Sul, como um ótimo local para soltá-los. Afinal, estudamos a população de vida livre do local por mais de 10 anos. Além de sabermos que a genética deles é compatível com a dos órfãos, também conhecemos as possíveis ameaças existentes na área, como a presença de infecções e doenças parasitárias de animais silvestres e domésticos, a disponibilidade de alimentos para os tamanduás e a viabilidade logística, entre vários outros pontos tão importantes. Todos esses pontos indicam que o ambiente de soltura irá atender aos animais!

 

 

3 – Manejo: planejamos também o manejo realizado durante a reabilitação e reintrodução dos órfãos. Durante a execução do trabalho, anotamos simplesmente tudo, adaptando sempre que necessário. Com isso, buscamos dados e resultados suficientes para obtermos um protocolo de reabilitação e reintrodução de tamanduás no bioma Pantanal.

 

 

A intenção é que esses protocolos possam ser replicados, com pequenas adaptações, em qualquer lugar! Assim, as informações irão auxiliar não só os ameaçados tamanduás-bandeira no Pantanal, mas em todos os biomas.

 

 

Já começou a ver a importância do Projeto Órfãos?!

 

Fases da reabilitação

Foto: Instituto Tamanduá

Chegada dos filhotes

Quando os pequeninos chegam ao CRAS, eles passam por uma avaliação clínica e física. Com o aval médico, eles podem começar a longa reabilitação. Neste primeiro momento eles permanecem no Centro de Reabilitação, quando o manejo necessário é maior.

Foto: Karina Abreu

Adaptação

Durante esse período, suas dietas são adaptadas com base no crescimento. Tudo é anotado, até mesmo os comportamentos. E há também a coleta de material genético para banco de dados!

Foto: Karina Abreu

A ida para o recinto de soltura

Um pouco maiores, os órfãos vão para a Pousada Aguapé, em Aquidauana, onde está localizada nossa base e nossos recintos de reabilitação.

 

Já no ambiente de soltura, eles ficam em recintos onde o contato com humanos é mínimo, afinal, aqui, a sua volta à natureza está próxima. Nesse momento, treinos de sobrevivência são feitos com os animais, através de enriquecimentos ambientais que simulem situações diversas pelas quais eles irão passar na natureza. Por exemplo, estimulamos o forrageamento (busca por alimento) e até mesmo, que eles se protejam contra chuvas.

Foto: Karina Abreu

Lar doce lar: de volta à natureza

Foto: Karina Abreu

Como comentamos, o processo de reabilitação é longo – dura em torno de 1 ano e é muito trabalhoso. Mas as tarefas não acabam com a soltura, afinal, após soltos ainda há o monitoramento.

Monitoramento

Foto: Karina Molina

Antes de serem soltos, cada animal recebe um colete GPS, programado para enviar dados por 1 a 2 anos. Recebemos informações sobre a atividade do animal – se está caminhando ou descansando, por exemplo – e até mesmo se ele está vivo ou veio a óbito. Além disso, é claro, recebemos a cada 6 horas a localização deles. 

 

E é aí que vamos a campo ver como estão os órfãos no seu novo lar! Analisamos a sua saúde e seu comportamento, coletando informações não só sobre o sucesso do indivíduo, mas também sobre a própria soltura – conseguimos avaliar ainda melhor a área e até mesmo, a melhor época de soltura dos tamanduás.

Foto: João Marcos Rosa

O Projeto não para por aí!

Claro, só é possível conservar o que se conhece! Então faz parte do Projeto a sensibilização das comunidades locais e da sociedade no geral para as ações que buscam evitar os incêndios florestais intencionais e promover a conservação do tamanduá-bandeira.

 

Além dessa, também é feita a sensibilização com os turistas que visitam a Pousada Aguapé, fazenda muito conhecida no Pantanal, onde há ecoturismo com possibilidade de avistamento de tamanduás-bandeiras e tamanduás-mirim (e sim, onde soltamos os órfãos!). Inclusive, a nossa equipe acompanha os turistas na observação dos tamanduás, divulgando mais informações sobre eles. 

 

Todo esse trabalho envolve a divulgação de material físico e virtual, além da realização de palestras sobre o tema. Esperamos sensibilizar cada vez mais pessoas (e claro, contamos com a sua ajuda para compartilhar esse trabalho)!

Foto: Instituto Tamanduá

Por fim, nós sabemos que o envolvimento de diferentes instituições é muito importante para o desenvolvimento do projeto. Assim, nós iremos incluir em nossas atividades a capacitação dos envolvidos nos resgates dos animais para um manejo técnico especializado. O que inclui, por exemplo, a Polícia Militar Ambiental, o Corpo de Bombeiros e os próprios técnicos do CRAS de Campo Grande.

 

Deu para perceber a magnitude desse projeto tão especial? Se sim, apoie o nosso trabalho e nos ajude a devolver cada vez mais órfãos à natureza. Doe para nossa campanha de financiamento coletivo!

 

Agradecemos imensamente a todos os financiadores e apoiadores que permitiram a criação e a execução do Projeto Órfãos. Sem vocês, esse trabalho tão importante não seria possível.

 

Financiadores: IFAW, Pousada Aguapé, World Animal Protection, FIAA Aid to Animals, Fundação Grupo Boticário e SOS Pantanal.

 

Apoiadores: Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul, Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal – MS, Conselho Regional de Medicina Veterinária – MS, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Instituto Raquel MachadoCentro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, do ICMBio e Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul.

 

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