Tamanduaí: biologia e ameaças

Os tamanduaís (Cyclopes spp.) são mamíferos da ordem Pilosa e do subgrupo Vermilingua junto ao tamanduá-bandeira e o tamanduá-mirim (que são da família Myrmecophagidae), sendo também, um tamanduá (porém da família Cyclopedidae). Mas esse não é qualquer tamanduá (por assim dizer), são simplesmente as menores espécies de tamanduá do mundo!

 

Até 2018, acreditava-se que existia somente uma espécie deste gênero, mas atualmente, já foram descritas sete espécies, que estão distribuídas pela América do Sul e Central. 

 

E o foco do nosso blog hoje, é o Cyclopes didactylus, um tamanduaí que habita a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica (em ambientes litorâneos) e que é uma grande motivação para nós, do Instituto Tamanduá, que trabalhamos muito para conhecermos cada vez mais a espécie.

 

Falamos bastante dela em nosso instagram, principalmente do Yoyo, o único tamanduaí sob cuidados humanos atualmente no mundo e que passou por reabilitação em nossa base. 

 

Mas o que você sabe sobre ela? Continua com a gente que te contaremos mais sobre C. didactylus.



Características

Para começar, o tamanduaí possui um tamanho corporal de apenas 20 cm, chegando a pesar somente 300g. 

 

Seus pelos são alongados e macios, por isso é conhecido como tamanduá-sedoso. Sua coloração é amarelada, com as patas mais acinzentadas e geralmente com duas faixas amarronzadas, uma no dorso e outra no ventre, que podem diferenciar em tamanho de acordo com a região.

 

Outras populações da América do Sul também apresentam essa característica, porém suas faixas são mais escuras e acinzentadas, e podem exibir faixas dorsais de coloração preta.

Tamanduaí (Cyclopes didactylus) - Yoyo / Foto: Karina Molina.

A sua cauda é maior que seu corpo, e tem em média 29,5 cm. Essa espécie é 100% arborícola, por isso sua cauda é preênsil, bastante forte e ela vai afinando ao longo do comprimento, dando suporte ao animal, principalmente quando está se alimentando ou se defendendo. 

 

Ainda mais, é o único tamanduá que possui os olhos voltados para frente. Possuem 5 dedos, porém com 2 garras desenvolvidas, uma delas é grande curvada e a outra menor localizada mais lateralmente em suas patas dianteiras. 

 

São as espécies de Xenarthra menos conhecidas cientificamente, por conta de seus hábitos e de difícil localização. 

Antigamente era classificado na mesma família que o tamanduá-bandeira (Myrmecophagidae) e, mas recentemente, foi reclassificado para outra família, a Cyclopedidae, a qual pertencem somente as espécies de tamanduaí e seu ancestral comum.


Por isso, é interessante mencionar que os Xenarthra (tamanduás, tatus e preguiças) foram algumas das primeiras espécies de mamíferos que surgiram nas Américas, e os tamanduás divergiram das preguiças há 55 milhões de anos, sendo o tamanduaí o primeiro a divergir há 30 milhões de anos, e o tamanduá-bandeira e mirim há 10 milhões de anos. Ou seja, o pequeno tamanduaí é o tamanduá mais antigo que temos registro.

Alimentação

Estes animais são insetívoros especialistas, e o que se sabe é que os hábitos alimentares do tamanduaí são baseados em formigas, porém foi observado em um estudo alguns besouros nas fezes de alguns indivíduos dessa espécie, em populações encontradas em Manaus e na Ilha Barro Colorado, essa informação sugere que algumas populações podem ser oportunistas e se alimentar de vários insetos.

Foto: João Marcos Rosa.

Neste mesmo estudo, foram coletados dois indivíduos da espécie na Ilha São Luís – MA e notaram que houve somente a ingestão de quatro espécies de formiga em seus conteúdos gastrointestinais, ou seja, sua alimentação se mostrou bem específica em formigas arborícolas, parecendo estar bastante limitada em diversidade. Diferentemente do mirim e do bandeira, que tem uma gama maior de espécies em suas dietas, tanto de formigas como cupins. 

Mas, mais estudos são necessários para confirmar essas informações.

 

Durante sua alimentação, utiliza as duas garras dianteiras para furar o galho e retirar os insetos, com sua língua alongada e tubular captura o alimento, o que permite que ele coma  cerca de 700 a 5000 formigas por dia

Distribuição

Esta espécie é a que possui a maior distribuição dentre as demais do mesmo gênero. É encontrada em algumas regiões da Colômbia, da Venezuela, da ilha de Trinidad, Guianas e ao norte e nordeste do Brasil, na região nordeste da Floresta Amazônica e na Mata Atlântica do Nordeste, como no Piauí e no Maranhão.


Por apresentarem baixas taxas metabólicas, pouca capacidade de termorregulação e baixa temperatura corporal, eles não conseguem habitar florestas com mais de 1500m de altitude.

Distribuição do Tamanduaí (Cyclopes didactylus) / Foto: Xenarthrans.org.

Hábitos e Comportamento

Este pequeno possui hábitos arborícolas, não costuma descer ao chão e possui hábitos  noturnos, por isso, é uma espécie difícil de ser avistada e estudada. Habita florestas tropicais úmidas, semi decíduas e perenes, manguezais e até mesmo florestas de galeria. 

 

Costumam descansar enrolados durante o dia nas sombras das árvores. Seu comportamento de defesa é um tanto quanto peculiar, se ele perceber algum movimento em seu galho, ele se segura com sua cauda preênsil, endireita seu corpo, levanta seus braços, posiciona suas garras na frente do rosto e se movimenta de um lado para o outro.

Tamanduaí descansando / Foto: Karina Molina..

Reprodução

De acordo com as pesquisas realizadas pela equipe no Delta do Parnaíba, os tamanduaís não tem uma época de reprodução definida. Além disso, sua gestação dura, em média, 150 dias e dão a luz a somente um filhote, que nasce consideravelmente grande para o tamanho da espécie. A equipe também observou que somente a mãe cuida do filhote, que o deixa em segurança nos galhos das árvores por horas, para conseguir se alimentar sem gastar tanta energia.



Mãe e filhote / Foto: Karina Molina

Os filhotes começam a imitar sua mãe ao longo dos 30 dias de vida, procurando formigas nos galhos das árvores, e se separam da mãe por volta do 80° dia.

Ameaças

Sua classificação é considerada pela IUCN como Menos Preocupante, porém com as novas classificações taxonômicas do gênero Cyclopes, não se sabe precisamente o grau de ameaça das espécies, porém novas avaliações estão sendo feitas. 

 

Mas, a sub-população do nordeste brasileiro está classificada como Dados Deficientes, sendo bastante preocupante para sua conservação. 

 

Sabemos que suas principais ameaças ocorrem devido ao alto grau de desmatamento, mais precisamente na Mata Atlântica, onde há grande degradação das florestas para a plantação de cana-de-açúcar. 

 

Outro fator que também impacta os tamanduaís é a sua retirada da natureza. Muitas pessoas, por desconhecerem a espécie, acabam pegando o animal achando que se trata de um filhote de tamanduá-mirim ou preguiça, apesar de nenhum destes serem pets (clique nos links e entenda o porquê eles não devem ser criados em casa).

 

Por fim, vale ressaltar que o  Instituto Tamanduá tem um histórico de cuidados com tamanduaís. Em julho de 2021, o Yoyo, um macho adulto, chegou bastante debilitado na Base Delta. Sob nossos cuidados, ele ficou saudável e, em 2022, foi encaminhado ao ZooParque de Itatiba, onde iniciou o primeiro projeto de conservação de cativeiro de sua espécie.

 

Ele é o único tamanduaí sob cuidados humanos, e enquanto estiver se recuperando em cativeiro poderá colaborar muito com as pesquisas sobre a espécie. Graças ao Yoyo poderemos estudar ainda mais sobre a biologia dos tamanduaís, compreender  melhor seu comportamento e deste modo, conseguiremos aprimorar ainda mais os planos de manejo e conservação. 

 

Texto por: Giovanna Leite Batistão

Revisado por: Juliana Cuoco Badari

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